Ainda existem ideias do senso comum, muito arraigadas na mente das pessoas a respeito da Psicologia, do processo Psicoterapêutico, a começar pela ideia de que estes são recursos que devem ser utilizados apenas por pessoas “loucas”. No entanto, esta ideia deriva da falta de informação de como funcionam os fenômenos psíquicos e os processos mentais, e de como a psicologia de maneira geral, podem ajudar as pessoas a resolverem os seus problemas. Problemas estes, que nem sempre estão associados a um transtorno emocional, mas que ainda assim, trazem muitos prejuízos para aqueles que vivenciam.

A verdade é que a cura pela fala, que pode ocorrer através do acompanhamento psicoterapêutico, é desacreditada e desvalorizada por muitas pessoas, por não acreditarem em sua eficácia, e para ajudá-los a entenderem como o processo psicoterapêutico pode ajudar na resolução de problemas, gostaria de contar a vocês a história da Sandra. (Sua história foi apresentada em um estudo de caso de um artigo científico, que sempre protege a identidade da paciente, além de possuir sua autorização para publicação do mesmo).

Sandra procurou acompanhamento psicoterapêutico, porque todos os seus relacionamentos amorosos fracassavam,causando-lhe intenso sofrimento. Ao longo do processo terapêutico, a mesma diz saber o motivo pelo qual os relacionamentos fracassavam: ela cheirava mal. Solteira, na casa dos 35 anos, sua queixa inicial situava-se na impossibilidade de encontrar um amor, e na certeza de que teria algo de errado com ela. Embora Sandra fosse bem humorada, apresentava muitas dificuldades afetivas, evitava muito contato social, sentia-se incompreendida pela família, e em seus momentos de crise, sentia exalar um mau cheiro, e até pensava em suicídio.

Em diversos momentosas questões relacionadas ao seu cheiro apareciam na terapia, e após alguns meses, ela relata uma memória traumática vivenciada em sua adolescência,no término de seu primeiro relacionamento, seu parceiro disse que terminaria com ela, por que ela cheirava mal.

Diante de uma crise, que ocorre logo após o término de um novo relacionamento, fica evidente que a paciente alucina o seu mau cheiro, que atua como um mecanismo de defesa, e caso você não saiba o que é um mecanismo de defesa, o mesmo atua com a função de evitar a dor, camuflando, distorcendo e esquecendo as nossas reais motivações, nossas reais lembranças, com o propósito de nos “poupar de mais sofrimento”.

O término do primeiro relacionamento foi extremamente traumático para Sandra, e sempre que a mesma se apaixona, o mecanismo de defesa alucinatório (mau cheiro) entra em ação, pois, “Como uma pessoa que cheira tão mal pode voltar a se relacionar com alguém?”, de forma, que ao acreditar nisso, não volta a se relacionar com ninguém, ou evita ao máximo, quando na verdade, o psiquismo está evitando a experiência de ser rejeitada novamente.

Sandra fez acompanhamento terapêutico durante dois anos, e pôde se dar conta destes traumas e processos, através da fala, através da sua história, suas lembranças, e assim pôde perceber de onde vinha o real motivo pelos seus fracassos amorosos, e o principal deles,era uma auto sabotagem inconsciente.

O caso de Sandra exemplifica bem, como os mecanismos de defesa funcionam, e como o processo psicoterapêutico pode ajudar. Ao se dar conta do verdadeiro trauma, a paciente tem a possibilidade de elaborá-lo, e de verdadeiramente desejar e viver um relacionamento saudável.

Existem curas que só podem ser conquistadas através da fala, e felizmente a Psicologia reserva esse espaço de escuta, acolhimento e análise, para que estes traumas possam ser conhecidos e elaborados.

 

Psicóloga Aline Costa
Psicóloga Clínica, Palestrante, Mestre em Psicologia da Saúde, Pesquisadora Capes e Coach.
CRP: 06/126231