Será que ainda podemos ficar tristes

A verdade é que a tecnologia mudou, não só o mundo, mas a forma como nos relacionamos com o mundo, e com as pessoas ao nosso redor. Tudo que precisamos, ou quase tudo, pode ser resolvido á distância de um clique, como pagar uma conta no banco, conversar com alguém do outro lado do mundo, fazer uma reunião de negócios, podemos resolver coisas simples, até as mais complexas, no conforto das nossas casas através do avanço que a tecnologia nos trouxe.

No entanto, o avanço da tecnologia trouxe também, um aumento da exposição da vida das pessoas, de forma que existe uma confusão muito grande, sobre o que é vida privada, e que é a vida pública. Cada dia que passa temos mais e mais redes sociais, que conectam as pessoas de acordo com as suas preferências, redes sociais de livros, negócios, fotos, relacionamentos e etc. E independente do interesse, as pessoas passaram a se expor cada vez mais.

Diante desta grande exposição, nasce uma ideia, que não condiz com a realidade, mas que é amplamente difundida e vivenciada como verdade, de que, as pessoas são exatamente aquilo que postam diariamente em suas redes sociais: Felizes!

Veja, não quero dizer que as pessoas mentem nas redes sociais, mas quero destacar, que as redes sociais são apenas um recorte da realidade, recorte este, que apresenta somente a parte boa da vida, ou seja, as realizações, as conquistas, as festas, as viagens, e tudo aquilo que a maioria das pessoas desejam, logo, a pessoa que acompanha do lado de cá, começa a achar que todo mundo é feliz, exceto ela.

Até porque, as pessoas não compartilham, ou pelo menos a maioria delas, não compartilham as dificuldades com a família, as dificuldades para pagar as contas do mês, ou as questões emocionais, vendendo a ideia, de que são amplamente felizes e bem resolvidas em todos os âmbitos da vida.

Logo, ser uma pessoa normal, que passa por diversas dificuldades e desafios diários no trabalho, na faculdade, ou com os relacionamentos, passa a ficar ultrapassado e fora de moda, e passamos a negar a tristeza, os sofrimentos, ou as dificuldades, vendo-as como inaceitáveis, como uma roupa que qualquer um pode vestir, menos nós.

E nos tiramos o direto de ficarmos tristes. Veja, não estou fazendo uma apologia á tristeza, ou ao sofrimento, mas gostaria de provocá-los a pensarem a respeito do papel do sofrimento em nossa vida. No mundo ideal, ninguém sofre, ninguém passa por dificuldades, no entanto, fazemos parte do mundo real, o sofrimento existe, e negá-lo é uma forma de perpetuá-lo, ao invés e elaborá-lo.

Os sofrimentos e as frustrações fazem parte do nosso desenvolvimento desde a tenra infância, crianças que crescem sem nenhuma frustração tendem a se tornar adultos frágeis diante dos desafios da vida adulta. Portanto, achar que todo mundo é feliz, é uma ilusão, assim como achar que é proibido sofrer.

Gostaria de encerrar, destacando três pontos importantes:

1) As redes sociais não representam a realidade em sua totalidade, é apenas um recorte dela, quase sempre um recorte da melhor parte.

2)  O sofrimento faz parte da vida de todas as pessoas, mesmo que elas não os exponha, porque faz parte de sua vida privada.

3) Nós temos sim, o direito de vivenciarmos dificuldades e sofrimentos, até porque tudo isso faz parte do mundo real, e parte do nosso desenvolvimento. Não precisamos expô-los, mas sim, aceitá-los, e elaborá-los na medida em que for possível.

Use a tecnologia a seu favor, e não ao contrário.

Grande Abraço!

 

Psicóloga Aline Costa
Psicóloga Clínica, Palestrante, Mestre em Psicologia da Saúde, Pesquisadora Capes e Coach.
CRP: 06/126231